Sumário
Toggle1. Quando a ausência de notificação torna obrigatória a indenização securitária, mesmo diante de inadimplência.

Os contratos de seguro possuem uma função essencial na proteção patrimonial e pessoal dos segurados, mas frequentemente surgem disputas sobre as obrigações das seguradoras em casos de inadimplência.
No contexto do Recurso Especial nº 2160515/SC, julgado pela Ministra Nancy Andrighi, analisou-se se é possível afastar o dever de indenizar quando o segurado permanece inadimplente por um longo período sem que tenha havido a comunicação prévia da seguradora sobre a resolução contratual.
Neste artigo, desvendamos os principais aspectos dessa decisão, facilitando a compreensão para leitores sem formação jurídica.
2. O Contexto da Decisão.

O caso envolveu uma ação de cobrança de indenização securitária em que a seguradora negou o pagamento, alegando inadimplência prolongada do segurado. No entanto, o segurado argumentou que não foi notificado previamente sobre a suspensão ou resolução do contrato.
A questão central era a aplicação da Súmula 616 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que estabelece:
“A indenização securitária é devida quando ausente a comunicação prévia do segurado acerca do atraso no pagamento do prêmio, por constituir requisito essencial para a suspensão ou resolução do contrato de seguro.”
Segundo o entendimento do STJ, a ausência de comunicação prévia inviabiliza o cancelamento do contrato ou a negativa de indenização pela seguradora.
3. Inadimplência e Comunicação Prévia: O que Diz a Lei?

Nos contratos de seguro, o prêmio — termo jurídico que corresponde ao valor pago pelo segurado à seguradora para manter o contrato ativo — é um elemento essencial. Quando o segurado deixa de pagar o prêmio, a seguradora pode, em tese, suspender a cobertura ou resolver o contrato.
No entanto, para que essa medida seja válida, é indispensável que a seguradora notifique previamente o segurado, conforme estabelecido pelo art. 763 do Código Civil e reforçado pela jurisprudência.
A lógica é simples: a comunicação prévia garante que o segurado tenha ciência de sua inadimplência e a oportunidade de regularizar a situação antes de perder o direito à cobertura.
4. O Julgamento do STJ e a Excepcionalidade do Caso.

Embora a comunicação prévia seja a regra, o STJ reconheceu, no acórdão, que podem existir situações excepcionais em que o inadimplemento prolongado do segurado, aliado a outros fatores, justifique o afastamento da Súmula 616.
No caso concreto, a seguradora argumentou que:
- O segurado havia deixado de pagar por um longo período.
- O percentual de parcelas quitadas era baixo, indicando desinteresse na continuidade do contrato.
Entretanto, o tribunal concluiu que a duração do inadimplemento não pode ser o único critério para afastar a obrigação de indenizar. Devem ser analisados outros elementos, como:
- A condição financeira do segurado;
- As razões específicas para o não pagamento;
- O comportamento da seguradora e do segurado durante a relação contratual.
A ausência de comunicação prévia da seguradora, nesse caso, manteve o dever de indenizar.
5. Impactos para Consumidores e Seguradoras.

Para o Consumidor (Segurado):
- A decisão fortalece a proteção ao consumidor, assegurando que as seguradoras cumpram o dever de comunicação antes de negar coberturas.
- Mesmo em situações de inadimplência, a falta de notificação pode obrigar o pagamento da indenização securitária.
Para as Seguradoras:
- O acórdão ressalta a importância de seguir rigorosamente os procedimentos contratuais, especialmente no envio de notificações formais.
- A negligência em notificar o segurado pode gerar prejuízos financeiros e reputacionais.
6. Conclusão: Um Equilíbrio Necessário.

O julgamento do Recurso Especial nº 2160515/SC reafirma a aplicação da Súmula 616 do STJ como uma regra de proteção ao segurado, mas também admite a análise do contexto para situações excepcionais.
A decisão demonstra que os contratos de seguro devem ser interpretados de forma a equilibrar os direitos e deveres de ambas as partes, assegurando a boa-fé e o cumprimento das obrigações contratuais.
A mensagem para consumidores e seguradoras é clara: o respeito aos procedimentos legais é essencial para evitar disputas judiciais e proteger os direitos envolvidos.
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