Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Análise do Julgamento no STJ: Precedente sobre Responsabilidade Civil do Estado.

1 – Introdução.

layers in an office
Photo by August de Richelieu on Pexels.com

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) consolidou em agosto de 2024, precedente no campo da responsabilidade civil do Estado com o julgamento do Agravo Interno no Agravo em Recurso Especial nº 2532436 – BA.

A decisão, relatada pelo Ministro Herman Benjamin, reafirma a necessidade de responsabilizar os entes públicos em casos de descumprimento contratual que impactam diretamente a dignidade dos cidadãos, promovendo um entendimento claro sobre o dever de indenização por danos morais.

2 – Contexto do Caso.

a man and a woman sitting at table while working
Photo by olia danilevich on Pexels.com

A origem do litígio envolve uma servidora pública do Município de Barra do Choça, que ajuizou uma ação de obrigação de fazer cumulada com pedido de indenização por danos morais.

O problema surgiu quando o município, apesar de efetuar descontos salariais referentes a um empréstimo consignado contratado pela servidora, não realizou o repasse dos valores à instituição financeira. Tal conduta levou a cobranças indevidas pela instituição, causando abalos emocionais e constrangimentos à servidora.

A defesa do município alegou sua ilegitimidade passiva, atribuindo à instituição financeira a responsabilidade pelo ocorrido. No entanto, o contrato consignado previa que o ente municipal deveria realizar os descontos e o repasse, o que não foi cumprido.

O STJ rejeitou os argumentos do município, fixando sua responsabilidade pelo dano causado.

3 – Aspectos Jurídicos Decisivos.

a close up shot of a chess piece
Photo by Kerigan on Pexels.com

3.1 – Responsabilidade Civil do Estado.

O caso aplica o princípio da responsabilidade civil objetiva, conforme previsto no artigo 37, § 6º, da Constituição Federal. Segundo este dispositivo, o Estado responde pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, independentemente de dolo ou culpa, desde que comprovados:

  1. Ato Ilícito: No caso, a omissão do município em repassar os valores descontados.
  2. Nexo de Causalidade: A cobrança indevida resultou diretamente da omissão do município.
  3. Dano: A servidora sofreu abalos à sua honra e tranquilidade em razão das cobranças indevidas.

O STJ destacou que a omissão do município em cumprir sua obrigação contratual constitui ato ilícito, ensejando a indenização pelos danos causados.

3.2 – Aplicabilidade da Súmula 7.

Outro ponto relevante foi o óbice da Súmula 7 do STJ, que impede o reexame de matéria fática em recurso especial.

A defesa do município buscava rediscutir os fatos e provas dos autos, alegando que não houve negativção do nome da servidora nos órgãos de proteção ao crédito. O STJ, entretanto, esclareceu que tal análise ultrapassava a competência dessa instância, reforçando o entendimento de que os fatos já foram devidamente analisados pelas instâncias inferiores.

A Súmula 7 estabelece que “a pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”. Seu objetivo é preservar a função do STJ de uniformizar a interpretação da lei federal, evitando que a Corte atue como instância revisora de fatos.

3.3 – Quantum Indenizatório.

O valor fixado para os danos morais foi de R$ 10.000,00. Este montante foi considerado razoável e proporcional à gravidade dos danos sofridos, alinhando-se a precedentes do STJ em casos semelhantes.

A Corte tem reiterado que a revisão do quantum indenizatório em recurso especial somente é possível quando o valor se mostra excessivo ou irrisório, o que não foi constatado no presente caso.

4 – Relevância do Precedente.

close up photo of people shaking hands
Photo by Pavel Danilyuk on Pexels.com

Este julgamento reforça a responsabilização de entes públicos em situações que afetam a confiança e a segurança dos cidadãos no cumprimento de obrigações contratuais. Ademais, destaca a importância da teoria do risco administrativo como ferramenta para assegurar que danos causados por omissões estatais sejam devidamente reparados.

No campo da responsabilidade civil, o precedente contribui para uniformizar a jurisprudência e fornecer parâmetros mais claros sobre a quantificação de danos morais. Além disso, envia uma mensagem inequívoca aos gestores públicos sobre a necessidade de observar estritamente suas obrigações legais e contratuais.

5 – Considerações Finais.

a golden balance scale beside a laptop
Photo by KATRIN BOLOVTSOVA on Pexels.com

A decisão do STJ no caso do Município de Barra do Choça não apenas reparou o prejuízo sofrido pela servidora, mas também reafirmou a importância do cumprimento de deveres pelos entes públicos. Ao fixar a responsabilidade objetiva do município, a Corte fortaleceu a segurança jurídica e demonstrou que a dignidade do cidadão deve ser resguardada em todas as esferas.

Esse julgamento serve como alerta para que os gestores públicos assegurem que seus atos e omissões estejam sempre alinhados aos princípios da legalidade, moralidade e eficiência, sob pena de comprometerem não apenas a administração pública, mas também os direitos fundamentais daqueles que dela dependem.

Comente o que achou. Deixe a sua crítica, elógio, sugestão, pois sua participação é muiro importante.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja Mais

Artigos Relacionados:

Horas de Sobreaviso e o Uso de Celular Corporativo.

Horas de Sobreaviso e o Uso de Celular Corporativo.

Como o Uso de Celular em Plantão Configura Horas de Sobreaviso? Introdução. O regime de horas de sobreaviso tem sido alvo de intensos debates no Direito do Trabalho brasileiro, especialmente

Herdeiro que Paga Aluguel pelo Uso Exclusivo do Imóvel Não Deve Arcar Sozinho com o IPTU.

Herdeiro que Paga Aluguel pelo Uso Exclusivo do Imóvel Não Deve Arcar Sozinho com o IPTU.

Entendimento do STJ sobre a Repartição do IPTU entre Herdeiros e a Vedação à Dupla Compensação. Introdução. Photo by Ron Lach on Pexels.com O Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou

Beneficiário de Seguro que Matou a Mãe Durante Surto Pode Receber Indenização? Entenda o Caso e a Decisão do STJ.

Beneficiário de Seguro que Matou a Mãe Durante Surto Pode Receber Indenização? Entenda o Caso e a Decisão do STJ.

Inimputabilidade e Direito à Indenização: Análise do Caso do Seguro de Vida. Introdução. Em recente julgamento, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu um caso polêmico envolvendo

Responsabilidade Civil em Jogos Eletrônicos.

Responsabilidade Civil em Jogos Eletrônicos.

"STJ Decide sobre Suspensão de Contas em Jogos Online e Garante Segurança Jurídica às Plataformas" Introdução. O Recurso Especial nº 2123587/SC (2024/0043134-8), julgado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), trouxe à

Recuso Ordinário em Ação Rescisória – A Falsidade Ideológica das Notas Fiscais e o Reconhecimento de Prova Falsa em processo trabalhista transitado em julgado.

Recuso Ordinário em Ação Rescisória – A Falsidade Ideológica das Notas Fiscais e o Reconhecimento de Prova Falsa em processo trabalhista transitado em julgado.

Periculosidade do uso de documentos falsificados para comprovação de direito trabalhista inexistente. Introdução. O caso em análise envolve uma ação rescisória fundamentada no art. 966, VI, do CPC, que trata

Impedimento do Juiz e a Nulidade Processual.

Impedimento do Juiz e a Nulidade Processual.

"Como a violação ao Art. 144, II, do CPC, pode anular decisões judiciais no âmbito trabalhista" Introdução. O caso TST-RRAg - 11368-06.2021.5.15.0041, julgado pela 1ª Turma do Tribunal Superior do

Habilitação de Crédito em Inventário: A Necessidade de Concordância Expressa dos Herdeiros.

Habilitação de Crédito em Inventário: A Necessidade de Concordância Expressa dos Herdeiros.

"STJ define que silêncio dos herdeiros não equivale a concordância em processos de inventário" Introdução. O processo de inventário é um procedimento judicial essencial para a partilha de bens e

Comparecimento Espontâneo no CPC: Quando o Prazo para Contestação Começa a Correr?

Comparecimento Espontâneo no CPC: Quando o Prazo para Contestação Começa a Correr?

Análise do Recurso Especial nº 1909271/PR e Seus Impactos no Direito Comparecimento Espontâneo no CPC: Quando o Prazo para Contestação Começa a Correr? 1. Introdução. O Direito Processual Civil brasileiro

Taxa de Manutenção em Loteamentos: Validade da Cobrança por Administradora com Base em Contrato-Padrão Registrado.

Taxa de Manutenção em Loteamentos: Validade da Cobrança por Administradora com Base em Contrato-Padrão Registrado.

"Cobrança de taxa em loteamento é legal? STJ decide com base em contrato registrado e distinção do Tema 492/STF". 1. Introdução. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo

Pais que não vacinarem filhos contra a Covid-19 podem ser multados: Entenda a decisão da Terceira Turma do STJ.

Pais que não vacinarem filhos contra a Covid-19 podem ser multados: Entenda a decisão da Terceira Turma do STJ.

STJ confirma multa para pais que se recusam a vacinar crianças contra Covid-19 com base no ECA e no princípio do melhor interesse da infância. 1. Introdução. A Terceira Turma

plugins premium WordPress