Sumário
Toggle1. Análise do Habeas Corpus Nº 784263 – ES: Defesa tardia e princípios processuais em foco.

A recente decisão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no julgamento do Habeas Corpus Nº 784263 – ES, trouxe à tona uma questão crucial no âmbito do direito processual penal: a relevância da tempestividade na arguição de nulidades processuais.
O caso, conduzido sob a relatoria da ministra Daniela Teixeira e relatado pelo ministro Messod Azulay Neto, envolve a tentativa de anulação de uma decisão de pronúncia, em um contexto marcado por alegada “nulidade de algibeira”.
Neste artigo, analisamos os principais aspectos do julgamento, incluindo os argumentos da defesa, o entendimento do STJ e a repercussão dessa decisão para o sistema de justiça criminal.
2. Contexto e Alegações da Defesa.

O caso tem origem no Estado do Espírito Santo, onde dois homens foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio qualificado em concurso de agentes. Após a decisão de pronúncia que determinou o julgamento pelo tribunal do júri, um dos réus recorreu ao Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), mas a decisão foi mantida com base no princípio in dubio pro societate.
Anos depois, após a condenação pelo júri popular, a defesa do condenado impetrou habeas corpus no STJ, alegando nulidade da pronúncia. Os principais pontos levantados incluíram:
- A fundamentação da pronúncia teria se baseado em depoimentos de “ouvir dizer”.
- As provas utilizadas seriam exclusivamente oriundas da fase inquisitorial, sem confirmação judicial.
Entretanto, a defesa somente questionou essas nulidades mais de três anos após a decisão de pronúncia ter sido confirmada pelo TJES, configurando a chamada “nulidade de algibeira”.
3. A Decisão da Quinta Turma.

Ao analisar o caso, o ministro Messod Azulay Neto, autor do voto prevalente, destacou pontos essenciais que embasaram a denegação do habeas corpus:
- Preclusão temporal: A defesa não impugnou a pronúncia no momento adequado, deixando transcorrer o prazo para questionamento e trazendo as alegadas nulidades apenas após a condenação pelo júri popular.
- Jurisprudência consolidada: O STJ tem reiterado que nulidades processuais devem ser arguidas imediatamente, sob pena de preclusão. A prática da “nulidade de algibeira” é repudiada, pois vai de encontro ao princípio da boa-fé processual, que exige lealdade das partes.
- Fundação da pronúncia: A decisão de pronúncia, segundo o ministro, não foi baseada exclusivamente em provas inquisitoriais ou testemunhos de “ouvir dizer”. Foi verificado que uma testemunha indicou a fonte da informação e outra prestou depoimento em juízo, cumprindo os requisitos necessários para a validade da decisão.
- Prejudicialidade das alegações de nulidade: A superveniência da condenação pelo tribunal do júri, que foi mantida em instâncias superiores, torna sem efeito prático o exame das nulidades da fase de pronúncia, conforme entendimento consolidado do STJ.
Com base nesses fundamentos, a Quinta Turma concluiu que não havia qualquer constrangimento ilegal a ser sanado, negando o habeas corpus.
4. Princípios Processuais em Evidência.

A decisão reafirma princípios fundamentais do processo penal:
- Boa-fé processual: A litigância deve ser conduzida de maneira leal e transparente, evitando-se estratégias que retardem ou comprometam a eficácia do processo.
- Preclusão: O ordenamento jurídico exige que as partes exerçam seus direitos no prazo estabelecido, sob pena de perda da possibilidade de alegar nulidades.
- Finalidade do habeas corpus: Este remédio constitucional não pode ser utilizado como substitutivo de recurso, especialmente quando se busca revisar decisões cobertas pela preclusão.
5. Repercussão da Decisão.

A decisão da Quinta Turma reforça a ideia de que o sistema processual penal não pode ser manipulado para atender a conveniências táticas das partes. Isso contribui para a segurança jurídica e para a preservação da credibilidade das instituições judiciais.
Além disso, o julgamento lança luz sobre a importância da atuação diligente da defesa, que deve estar atenta aos prazos e às possibilidades recursais para evitar situações de preclusão que prejudiquem seus assistidos.
6. Considerações Finais.

O caso Marcus Vinícius Cordeiro Barbosa ilustra como a tardia impugnação de uma decisão pode inviabilizar o exame de questões relevantes, mesmo em matérias sensíveis como o direito penal. A decisão do STJ serve de alerta para advogados e operadores do direito sobre a importância de uma atuação tempestiva e fundamentada.