Sumário
Toggle1. Introdução.
No dia 16 de dezembro de 2024, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) deu um passo significativo em direção à garantia de acesso igualitário à Justiça, ao estabelecer uma tese vinculante sobre a concessão de justiça gratuita nos processos trabalhistas.
A decisão, fruto de um julgamento de recurso de revista repetitivo, traz maior clareza aos critérios e procedimentos necessários para que trabalhadores em situação de vulnerabilidade possam demandar seus direitos sem custear as despesas processuais. Este artigo analisa os principais pontos da tese, seus impactos práticos e as implicações jurídicas do entendimento.
2. O Poder-Dever do Magistrado Trabalhista.
O primeiro aspecto inovador da tese é a previsão de que o juiz trabalhista tem o poder-dever de conceder, de ofício, a justiça gratuita aos trabalhadores que percebam renda igual ou inferior a 40% do teto máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Isso significa que, ao identificar nos autos documentação que comprove tal condição, o magistrado não precisa aguardar solicitação expressa do trabalhador para conceder o benefício.
Essa medida reflete um compromisso com a acessibilidade e com a redução de barreiras burocráticas. Muitas vezes, trabalhadores deixam de pleitear direitos por desconhecimento dos trâmites legais ou por receio dos custos envolvidos. A nova regra, portanto, atua como um instrumento de inclusão, permitindo que direitos sejam exercidos mesmo na ausência de conhecimento jurídico aprofundado.
3. A Declaração Pessoal como Prova.
Outro ponto relevante da tese é a possibilidade de concessão de justiça gratuita àqueles que recebem mais de 40% do teto do RGPS, mediante a apresentação de uma declaração pessoal assinada pelo interessado, na qual afirma não ter condições financeiras para arcar com os custos processuais. Tal previsão está respaldada pela Lei 7.115/83, que confere presunção de veracidade às declarações firmadas pelo próprio interessado.
Além de simplificar o processo, essa regra é um reflexo da busca por equidade. Ela reconhece que a condição financeira de um indivíduo nem sempre pode ser medida de forma objetiva apenas por sua renda. Muitas vezes, despesas pessoais ou familiares tornam a situação financeira mais complexa do que aparenta.
Vale destacar que essa declaração deve ser firmada sob as penas do artigo 299 do Código Penal, que trata do crime de falsidade ideológica. Dessa forma, a norma previne possíveis abusos ao responsabilizar o declarante pela veracidade das informações prestadas.
4. Impugnação e Contraditório.
Quando o pedido de justiça gratuita é questionado pela parte contrária, a tese estabelece um procedimento claro e alinhado aos princípios do contraditório e da ampla defesa. A impugnação deve ser acompanhada de provas concretas que demonstrem a inexistência da condição de hipossuficiência alegada pelo trabalhador.
Nesse cenário, o juiz tem a obrigatoriedade de abrir vista ao requerente, permitindo que este se manifeste e apresente argumentos ou provas adicionais antes da decisão final. Esse procedimento encontra fundamento no artigo 99, § 2º, do Código de Processo Civil (CPC), garantindo um julgamento justo e equilibrado.
5. O Que Muda na Prática?
A tese firmada pelo TST representa um marco para o Direito do Trabalho ao unificar a interpretação sobre a concessão de justiça gratuita. Antes, a ausência de padronização gerava incertezas e discrepâncias entre as decisões, criando uma insegurança jurídica para trabalhadores e empregadores. Agora, os critérios objetivos estabelecidos promovem previsibilidade e transparência.
Para os trabalhadores, a principal vantagem é o acesso facilitado à Justiça. O entendimento de que o juiz pode conceder o benefício de forma automática elimina uma barreira significativa. Além disso, a possibilidade de apresentar uma simples declaração amplia as chances de aqueles com renda um pouco superior ao limite também se beneficiarem.
Já para as empresas, a tese oferece oportunidade de contestar pedidos de justiça gratuita que considerem infundados, desde que apresentem provas robustas. Essa previsão evita abusos e reforça a necessidade de transparência no processo.
6. A Importância do Tema 21.
O julgamento do Tema 21 pelo TST não é apenas uma decisão processual; é um reflexo de como o Direito do Trabalho continua evoluindo para atender às demandas da sociedade contemporânea. Em um país como o Brasil, onde a desigualdade econômica ainda é um desafio, assegurar que os trabalhadores vulneráveis tenham acesso pleno à Justiça é uma medida de grande alcance social.
7. Reflexões Finais.
A tese vinculante estabelecida pelo TST representa um avanço significativo em termos de acesso à Justiça. Ela consolida o princípio constitucional de que nenhum indivíduo deve ser impedido de buscar seus direitos por razões financeiras. Além disso, reforça a ideia de que o sistema judiciário deve ser inclusivo e adaptado às necessidades reais da população.
Para advogados, empregadores e trabalhadores, a decisão exige atenção aos novos procedimentos. A documentação correta e a utilização adequada das possibilidades de impugnação e defesa serão fundamentais para garantir um processo justo e eficiente.
Por fim, o entendimento firmado pelo TST é um exemplo de como o Direito pode e deve evoluir para equilibrar formalidades processuais e a necessidade de justiça social. A partir de agora, trabalhadores e empregadores terão regras mais claras e seguras para navegar no complexo universo das relações de trabalho.