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STJ reconhece legalidade do cultivo de cânhamo industrial para fins medicinais no Brasil, condicionado à regulamentação da Anvisa e União.

1.Introdução.

a balance scale on a table
Photo by KATRIN BOLOVTSOVA on Pexels.com

A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu nesta quarta-feira (13) pela possibilidade jurídica de autorizar o plantio, cultivo e comercialização do cânhamo industrial no Brasil, desde que exclusivamente para fins medicinais e farmacêuticos. A decisão, proferida no âmbito do Incidente de Assunção de Competência (IAC 16), obriga as instâncias inferiores da Justiça a observarem as diretrizes fixadas pelo colegiado.

O cânhamo industrial, uma variedade da Cannabis sativa com teor de tetrahidrocanabinol (THC) inferior a 0,3%, não apresenta propriedades psicoativas e, por isso, foi considerado pela Corte como não enquadrado nas proibições previstas na Lei de Drogas (Lei 11.343/2006). No entanto, o STJ determinou que a autorização para o cultivo e comercialização depende de regulamentação específica a ser elaborada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela União no prazo máximo de seis meses, a contar da publicação do acórdão.

2.Fundamentação e diferenciação do cânhamo industrial.

landscape photography of factory
Photo by Pixabay on Pexels.com

A ministra Regina Helena Costa, relatora do caso, destacou que o cânhamo industrial se distingue da maconha em função de suas características químicas. Embora ambas sejam variações da Cannabis sativa, o cânhamo possui concentração de THC — o composto responsável por efeitos psicoativos — inferior a 0,3%. Em contrapartida, a maconha apresenta teores de THC entre 10% e 30%, sendo classificada como substância psicotrópica.

Segundo a relatora, o cânhamo industrial é rico em canabidiol (CBD), substância com reconhecidas propriedades terapêuticas. Estudos citados pela ministra apontam que derivados da cannabis são eficazes no tratamento de doenças neurodegenerativas, transtornos mentais e condições como ansiedade, demonstrando grande potencial no campo da saúde pública.

Regina Helena Costa também ressaltou que a ausência de regulamentação no Brasil tem resultado em entraves burocráticos e elevados custos para pacientes. Atualmente, os insumos necessários para a produção de medicamentos à base de cannabis precisam ser importados, o que encarece os tratamentos e dificulta o acesso, especialmente para pacientes de baixa renda.

A ministra destacou ainda que, em âmbito internacional, convenções adotadas pelo Brasil, como a Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961, permitem o uso medicinal e industrial da cannabis, desde que sob regulamentação específica de cada país.

3.Teses fixadas no julgamento.

low angle view of a statue
Photo by Diego Caumont on Pexels.com

O STJ fixou cinco teses principais no julgamento:

  1. O cânhamo industrial, por ser incapaz de causar dependência, não pode ser considerado droga nos termos da Lei 11.343/2006.
  2. Compete ao Estado brasileiro regulamentar todas as variedades de Cannabis, incluindo o cânhamo industrial, que atualmente só pode ser utilizado para fins medicinais e farmacêuticos.
  3. Normas da Anvisa que proíbem a importação de sementes e o manejo doméstico da planta devem ser interpretadas de modo a excluir o cânhamo industrial dessas restrições.
  4. É lícito autorizar o plantio, cultivo, industrialização e comercialização do cânhamo industrial por pessoas jurídicas, desde que observada a regulamentação a ser editada pela Anvisa e União.
  5. Cabe à Anvisa e União adotar medidas de controle, como rastreabilidade genética e requisitos de idoneidade para empresas, para evitar desvios e garantir a segurança da cadeia produtiva.

4.Impactos da decisão.

judge signing on the papers
Photo by KATRIN BOLOVTSOVA on Pexels.com

A decisão do STJ representa um marco na regulamentação do uso medicinal da cannabis no Brasil. Além de facilitar o acesso a medicamentos à base de cannabis, o reconhecimento da possibilidade de cultivo nacional pode reduzir os custos dos tratamentos e estimular o desenvolvimento da indústria farmacêutica e de pesquisas científicas no país.

No entanto, a implementação efetiva da medida dependerá de regulamentações claras e detalhadas. A Anvisa e a União terão o desafio de criar normas que equilibrem o incentivo à produção nacional com mecanismos robustos de fiscalização, para evitar desvios e garantir que o cânhamo seja utilizado exclusivamente para os fins autorizados.

Ao permitir o cultivo do cânhamo industrial, o Brasil dá um passo importante na direção de políticas públicas mais inclusivas e alinhadas às evidências científicas, colocando o direito à saúde no centro do debate jurídico e regulatório. A decisão também pode abrir precedentes para futuras discussões sobre o potencial terapêutico e industrial de outras variedades de cannabis.

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