Sumário
Toggle1. Entenda como o Tribunal Superior do Trabalho abordou questões de assédio moral, discriminação de gênero e direitos trabalhistas em navios de cruzeiro – Introdução:

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) recentemente julgou um caso emblemático envolvendo assédio moral, discriminação de gênero e violação de direitos trabalhistas no ambiente de trabalho, especificamente em navios de cruzeiro.
O processo, registrado sob o número TST-RRAg-2030-90.2017.5.09.0016, traz à tona discussões importantes sobre a aplicação da legislação trabalhista brasileira em contextos internacionais, a proteção dos direitos das mulheres no ambiente de trabalho e a responsabilidade das empresas em garantir um ambiente laboral seguro e respeitoso.
Neste artigo, vamos analisar os principais aspectos do caso, fundamentando a discussão na legislação brasileira e nos princípios jurídicos que regem as relações de trabalho. Além disso, vamos esclarecer termos jurídicos para que todos possam compreender a complexidade do tema.
2. O Caso em Questão.

O processo envolve uma trabalhadora brasileira contratada para atuar como animadora infantil em navios de cruzeiro internacionais.
A reclamante alegou ter sido vítima de assédio moral e discriminação de gênero por parte de seu superior hierárquico, além de violações aos seus direitos trabalhistas, como a não concessão de intervalos adequados e a exigência de exames médicos invasivos durante o processo de admissão.
O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) reconheceu a ocorrência de assédio moral e condenou a empresa ao pagamento de indenização por danos morais. No entanto, o valor fixado foi considerado baixo pela reclamante, que recorreu ao TST buscando a majoração do valor indenizatório e a reparação por outras violações alegadas.
3. Assédio Moral e Discriminação de Gênero: Fundamentos Legais.

O assédio moral no ambiente de trabalho é uma conduta que viola a dignidade da pessoa humana, garantida pelo artigo 1º, III, da Constituição Federal de 1988. Além disso, o artigo 5º, X, da CF/88, assegura a indenização por danos morais decorrentes de violações aos direitos da personalidade.
No caso em análise, a reclamante alegou que foi submetida a humilhações públicas, comentários pejorativos sobre sua condição de mulher e tratamento diferenciado em relação aos colegas homens.
Essas condutas, segundo a sua manifestação, configuram assédio moral, que, segundo a jurisprudência do TST, consiste em “uma conduta reiterada do sujeito ativo no sentido de desgastar o equilíbrio emocional do sujeito passivo, por meio de atos, palavras, gestos e silêncios significativos que visem ao enfraquecimento e à diminuição da autoestima da vítima”.
A discriminação de gênero, por sua vez, é proibida pela Convenção nº 111 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificada pelo Brasil, que prevê a eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação.
A Convenção de Belém do Pará, também ratificada pelo Brasil, reforça a proteção contra a violência baseada no gênero, incluindo o assédio moral e sexual no ambiente de trabalho.
4. Aplicação da Legislação Brasileira em Contextos Internacionais.

Um dos pontos centrais do caso foi a discussão sobre a aplicação da legislação trabalhista brasileira em navios de cruzeiro que operam em águas internacionais.
O TST entendeu que, nos termos do artigo 651, § 2º, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a jurisdição brasileira é competente para julgar casos envolvendo trabalhadores brasileiros contratados no país, mesmo que o labor seja realizado em águas internacionais.
Além disso, a Lei nº 7.064/1982, estabelece que os trabalhadores brasileiros contratados para trabalhar no exterior estão sujeitos à legislação brasileira, desde que esta seja mais favorável do que a legislação local. No caso em questão, o TST aplicou o princípio da norma mais favorável, garantindo à reclamante a proteção dos direitos trabalhistas previstos na CLT.
5. Intervalos e Jornada de Trabalho: O Artigo 384 da CLT.

Outro aspecto relevante do caso foi a discussão sobre a concessão de intervalos durante a jornada de trabalho.
O artigo 384 da CLT, prevê que as trabalhadoras têm direito a um intervalo de 15 minutos antes do início do trabalho extraordinário. O TST reiterou que esse direito é fundamental para a proteção da saúde e da integridade física das trabalhadoras, não podendo ser condicionado à prestação de horas extras por um período mínimo.
O referido artigo foi revogado em vista do início da vigência da atual legislação em vigor desde o início da vigência da lei.
A decisão do TST reforça a importância de garantir condições dignas de trabalho, especialmente em setores como o de cruzeiros, onde a jornada de trabalho pode ser extenuante e os intervalos são essenciais para o descanso e a recuperação dos trabalhadores.
6. Exames Médicos Invasivos e Discriminação.

A reclamante também alegou que foi submetida a exames médicos invasivos, como teste de HIV e exame toxicológico, durante o processo de admissão.
O TST considerou essa prática discriminatória e abusiva, violando a intimidade e a dignidade da trabalhadora. A Portaria nº 1.246/2010 do Ministério do Trabalho e Emprego proíbe a realização de testes de HIV em exames admissionais, salvo em casos de campanhas voluntárias de prevenção.
A decisão do TST reforça a necessidade de as empresas respeitarem a privacidade e a dignidade dos trabalhadores, evitando práticas discriminatórias que possam violar seus direitos fundamentais.
7. Conclusão.

O caso TST-RRAg-2030-90.2017.5.09.0016 é um exemplo emblemático de como o Poder Judiciário brasileiro tem atuado para garantir a proteção dos direitos trabalhistas, especialmente em contextos complexos como o de navios de cruzeiro internacionais.
A decisão do TST reforça a importância de combater o assédio moral e a discriminação de gênero no ambiente de trabalho, garantindo a aplicação da legislação brasileira e dos tratados internacionais ratificados pelo Brasil.
Além disso, o caso serve como um alerta para as empresas sobre a necessidade de adotar práticas laborais que respeitem a dignidade e os direitos dos trabalhadores, evitando condutas abusivas e discriminatórias.
A majoração do valor indenizatório fixado pelo TST também demonstra a importância de garantir reparações justas e proporcionais aos danos sofridos pelas vítimas.