Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Meação de Crédito Decorrente de Expurgos Inflacionários no Regime de Comunhão Universal de Bens.

Compreendendo os Direitos Patrimoniais no Casamento e a Partilha de Créditos Reconhecidos Após a Separação Judicial.

1. Introdução: Entendendo o Contexto do Caso e a Relevância da Meação de Créditos no Direito de Família.

O direito de família é um dos ramos mais complexos e sensíveis do ordenamento jurídico brasileiro, especialmente quando envolve a partilha de bens e créditos decorrentes de relações matrimoniais.

O caso em análise, referente ao Recurso Especial Nº 2144296 – TO (2024/0174858-6), julgado pela Ministra Nancy Andrighi do Superior Tribunal de Justiça (STJ), traz à tona uma discussão relevante sobre a meação de créditos decorrentes de expurgos inflacionários em um casamento sob o regime da comunhão universal de bens.

Este artigo busca analisar os aspectos jurídicos envolvidos no caso, fundamentando-se na legislação brasileira e na jurisprudência pertinente.

2. O Regime da Comunhão Universal de Bens.

Photo by Julia M Cameron on Pexels.com

O regime da comunhão universal de bens, previsto no artigo 1.667 do Código Civil (CC), estabelece que todos os bens presentes e futuros dos cônjuges, bem como as dívidas passivas, são compartilhados igualmente entre os dois.

Isso significa que, durante o casamento, qualquer aquisição ou obrigação contraída por um dos cônjuges pertence a ambos, em partes iguais.

Esse regime reflete a ideia de que o casamento é uma união não apenas afetiva, mas também patrimonial, onde ambos os cônjuges contribuem para a formação e manutenção do patrimônio familiar.

3. O Caso em Análise: Expurgos Inflacionários e Meação de Crédito.

No caso em questão, o casal Jussara Fátima de Moraes e Lucir Luiz Fontana estavam casados sob o regime da comunhão universal de bens.

Durante o casamento, Lucir contraiu uma cédula de crédito rural junto ao Banco do Brasil em 1990, destinada ao custeio de lavoura de soja.

Após a separação judicial em 2004, o espólio de Lucir ingressou com uma ação para restituição de valores pagos a maior devido a expurgos inflacionários decorrentes do Plano Collor I.

A questão central do recurso especial é saber se a ex-esposa, Jussara, tem direito à meação desses créditos reconhecidos após a separação judicial, uma vez que a cédula de crédito foi firmada durante o casamento.

4. A Comunicabilidade dos Créditos no Regime de Comunhão Universal.

O artigo 1.667 do CC é claro ao estabelecer que todos os bens e dívidas adquiridos durante o casamento são comuns aos cônjuges. Isso inclui não apenas os bens materiais, mas também os direitos creditórios.

No caso dos expurgos inflacionários, o crédito decorre de uma obrigação contraída durante o casamento, ou seja, a cédula de crédito rural.

Portanto, mesmo que o crédito tenha sido reconhecido após a separação, ele está intrinsecamente ligado a uma obrigação assumida durante o período em que o casal estava unido pelo regime da comunhão universal.

A Ministra Nancy Andrighi destacou em seu voto que, no regime da comunhão universal, as dívidas contraídas por um dos cônjuges são compartilhadas por ambos, desde que tenham sido assumidas em benefício da família.

No caso em questão, a cédula de crédito rural foi contraída para custear a lavoura de soja, atividade que beneficiava o patrimônio comum do casal. Portanto, o crédito decorrente dos expurgos inflacionários deve ser partilhado entre os ex-cônjuges, sob pena de enriquecimento sem causa de um deles.

5. A Súmula 7/STJ e a Vedação ao Reexame de Fatos e Provas.

assorted books on book shelves
Photo by Pixabay on Pexels.com

Um dos pontos levantados pelo espólio de Lucir foi a alegação de que o crédito decorrente dos expurgos inflacionários só foi reconhecido após a separação judicial, o que, em tese, o tornaria incomunicável.

No entanto, a Ministra Nancy Andrighi ressaltou que a Súmula 7/STJ veda o reexame de fatos e provas no âmbito do recurso especial. Ou seja, o STJ não pode reavaliar as provas e fatos já analisados pelo tribunal de origem, cabendo apenas a análise de questões de direito.

Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Tocantins (TJ/TO) já havia concluído que o crédito decorrente dos expurgos inflacionários era comunicável, uma vez que a cédula de crédito rural foi firmada durante o casamento. Portanto, o STJ não poderia reexaminar essa conclusão, sob pena de violar a Súmula 7/STJ.

6. A Partilha de Créditos Reconhecidos Após a Separação Judicial.

Outro aspecto relevante do caso é a questão da partilha de créditos reconhecidos após a separação judicial.

O artigo 1.576 do CC estabelece que a separação judicial põe fim ao regime de bens, mas isso não significa que os créditos decorrentes de obrigações contraídas durante o casamento deixem de ser comunicáveis.

Pelo contrário, como destacou a Ministra Nancy Andrighi, o reconhecimento de um crédito retroativamente após a separação não afasta o direito de meação do ex-cônjuge, desde que o crédito esteja vinculado a uma obrigação assumida durante o casamento.

No caso em questão, o crédito decorrente dos expurgos inflacionários está diretamente relacionado à cédula de crédito rural firmada durante o casamento. Portanto, mesmo que o crédito tenha sido reconhecido após a separação, ele deve ser partilhado entre os ex-cônjuges, em observância ao princípio da comunhão universal de bens.

7. Conclusão: A Importância da Comunicabilidade dos Créditos no Regime de Comunhão Universal.

O caso analisado reforça a importância de se observar os princípios do regime de comunhão universal de bens, especialmente no que diz respeito à comunicabilidade dos créditos decorrentes de obrigações contraídas durante o casamento.

A decisão do STJ, ao reconhecer o direito de meação da ex-esposa sobre os créditos decorrentes dos expurgos inflacionários, demonstra que o regime da comunhão universal não se limita aos bens materiais, mas também abrange os direitos creditórios.

Portanto, mesmo que um crédito seja reconhecido após a separação judicial, ele deve ser partilhado entre os ex-cônjuges, desde que esteja vinculado a uma obrigação assumida durante o casamento.

Essa interpretação está em consonância com o artigo 1.667 do CC e com a jurisprudência do STJ, que tem se posicionado no sentido de garantir a equidade na partilha de bens e créditos no âmbito do direito de família.

Este artigo buscou esclarecer os principais aspectos jurídicos envolvidos no julgamento do Recurso Especial Nº 2144296 – TO (2024/0174858-6), destacando a importância da comunicabilidade dos créditos no regime de comunhão universal de bens e a necessidade de se observar os princípios de equidade e justiça na partilha de bens e créditos decorrentes de relações matrimoniais.

FONTE STJ:

RECURSO ESPECIAL Nº 2144296 – TO (2024/0174858-6)

Comente o que achou. Deixe a sua crítica, elógio, sugestão, pois sua participação é muiro importante.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja Mais

Artigos Relacionados:

Herdeiro que Paga Aluguel pelo Uso Exclusivo do Imóvel Não Deve Arcar Sozinho com o IPTU.

Herdeiro que Paga Aluguel pelo Uso Exclusivo do Imóvel Não Deve Arcar Sozinho com o IPTU.

Entendimento do STJ sobre a Repartição do IPTU entre Herdeiros e a Vedação à Dupla Compensação. Introdução. Photo by Ron Lach on Pexels.com O Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou

Beneficiário de Seguro que Matou a Mãe Durante Surto Pode Receber Indenização? Entenda o Caso e a Decisão do STJ.

Beneficiário de Seguro que Matou a Mãe Durante Surto Pode Receber Indenização? Entenda o Caso e a Decisão do STJ.

Inimputabilidade e Direito à Indenização: Análise do Caso do Seguro de Vida. Introdução. Em recente julgamento, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu um caso polêmico envolvendo

Responsabilidade Civil em Jogos Eletrônicos.

Responsabilidade Civil em Jogos Eletrônicos.

"STJ Decide sobre Suspensão de Contas em Jogos Online e Garante Segurança Jurídica às Plataformas" Introdução. O Recurso Especial nº 2123587/SC (2024/0043134-8), julgado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), trouxe à

Recuso Ordinário em Ação Rescisória – A Falsidade Ideológica das Notas Fiscais e o Reconhecimento de Prova Falsa em processo trabalhista transitado em julgado.

Recuso Ordinário em Ação Rescisória – A Falsidade Ideológica das Notas Fiscais e o Reconhecimento de Prova Falsa em processo trabalhista transitado em julgado.

Periculosidade do uso de documentos falsificados para comprovação de direito trabalhista inexistente. Introdução. O caso em análise envolve uma ação rescisória fundamentada no art. 966, VI, do CPC, que trata

Impedimento do Juiz e a Nulidade Processual.

Impedimento do Juiz e a Nulidade Processual.

"Como a violação ao Art. 144, II, do CPC, pode anular decisões judiciais no âmbito trabalhista" Introdução. O caso TST-RRAg - 11368-06.2021.5.15.0041, julgado pela 1ª Turma do Tribunal Superior do

Habilitação de Crédito em Inventário: A Necessidade de Concordância Expressa dos Herdeiros.

Habilitação de Crédito em Inventário: A Necessidade de Concordância Expressa dos Herdeiros.

"STJ define que silêncio dos herdeiros não equivale a concordância em processos de inventário" Introdução. O processo de inventário é um procedimento judicial essencial para a partilha de bens e

Comparecimento Espontâneo no CPC: Quando o Prazo para Contestação Começa a Correr?

Comparecimento Espontâneo no CPC: Quando o Prazo para Contestação Começa a Correr?

Análise do Recurso Especial nº 1909271/PR e Seus Impactos no Direito Comparecimento Espontâneo no CPC: Quando o Prazo para Contestação Começa a Correr? 1. Introdução. O Direito Processual Civil brasileiro

Taxa de Manutenção em Loteamentos: Validade da Cobrança por Administradora com Base em Contrato-Padrão Registrado.

Taxa de Manutenção em Loteamentos: Validade da Cobrança por Administradora com Base em Contrato-Padrão Registrado.

"Cobrança de taxa em loteamento é legal? STJ decide com base em contrato registrado e distinção do Tema 492/STF". 1. Introdução. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo

Pais que não vacinarem filhos contra a Covid-19 podem ser multados: Entenda a decisão da Terceira Turma do STJ.

Pais que não vacinarem filhos contra a Covid-19 podem ser multados: Entenda a decisão da Terceira Turma do STJ.

STJ confirma multa para pais que se recusam a vacinar crianças contra Covid-19 com base no ECA e no princípio do melhor interesse da infância. 1. Introdução. A Terceira Turma

A Ação de Improbidade Administrativa e Colaboração Premiada: Por que a Lei nº 14.230/2021, reforça a inviabilidade de novas sanções?

A Ação de Improbidade Administrativa e Colaboração Premiada: Por que a Lei nº 14.230/2021, reforça a inviabilidade de novas sanções?

1. Entenda como as mudanças na Lei de Improbidade impactam a judicialização de atos ilícitos já objeto de acordos de colaboração premiada. A Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça

plugins premium WordPress