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Taxa de Manutenção em Loteamentos: Validade da Cobrança por Administradora com Base em Contrato-Padrão Registrado.

“Cobrança de taxa em loteamento é legal? STJ decide com base em contrato registrado e distinção do Tema 492/STF”.

1. Introdução.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF) têm se debruçado sobre a legalidade da cobrança de taxas de manutenção em loteamentos, especialmente quando realizada por administradoras ou associações de moradores.

No Recurso Especial nº 1.711.721/SP, julgado pelo Ministro Raul Araújo, foi analisado se a cobrança de taxas por uma administradora de loteamento, com fundamento em contrato-padrão registrado, configurava exigência válida ou se violava o entendimento firmado no Tema 492/STF.

Este artigo examina os aspectos jurídicos desse julgamento, destacando a distinção entre cobranças realizadas por associações de moradores e administradoras contratuais, bem como a importância do registro imobiliário para validar tais obrigações.


2. O Caso Concreto: Cobrança de Taxa por Administradora com Base em Contrato Registrado.

No caso em análise, a Administradora Jardim Acapulco Ltda, cobrava dos proprietários de lotes uma taxa de manutenção e infraestrutura, com fundamento em cláusula contratual inserida em contrato-padrão registrado no cartório de imóveis. Os agravantes (Silvia de Souza e Silva Martinelli e outros) alegavam que a cobrança seria ilegal, com base no Tema 492/STF, que considerou inconstitucional a cobrança de taxas por associações de moradores de proprietários não associados.

No entanto, o STJ manteve a cobrança, entendendo que:

  • A administradora não era uma associação de moradores, mas uma empresa contratada para prestar serviços;
  • O vínculo obrigacional decorria de contrato registrado, ao qual os adquirentes dos lotes anuíram expressamente;
  • A situação era distinta do Tema 492/STF, que tratava de cobranças por associações sem consentimento individual.


3. Fundamentação Jurídica: A Validade da Cobrança com Base no Registro Imobiliário

3.1. Contrato-Padrão Registrado e Obrigatoriedade da Taxa.

O STJ consolidou o entendimento de que cláusulas contratuais que preveem a cobrança de taxas de manutenção são válidas quando:

  • Há registro no cartório de imóveis (art. 108 da Lei nº 6.015/73 – Lei de Registros Públicos);
  • Os compradores foram cientificados e concordaram expressamente (art. 422 do Código Civil – princípio da autonomia da vontade);
  • A cobrança não se confunde com taxa pública, mas decorre de obrigação contratual (art. 5º, II, da CF/88 – pacta sunt servanda).

No caso julgado, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) destacou que os proprietários assumiram a obrigação ao adquirir o imóvel, conforme cláusula 13 do contrato-padrão registrado.

3.2. Distinção em Relação ao Tema 492/STF.

O STF, no Tema 492, decidiu que:

“É inconstitucional a cobrança por parte de associação de taxa de manutenção e conservação de loteamento imobiliário urbano de proprietário não associado até o advento da Lei nº 13.465/2017.”

Porém, o STJ diferenciou o caso, pois:

  • A cobrança não era feita por associação, mas por administradora contratual;
  • Existia contrato registrado, com anuência dos proprietários;
  • A obrigação decorria de negócio jurídico válido, não de imposição unilateral.


4. Princípios Aplicáveis e Jurisprudência do STJ.

4.1. Princípio da Autonomia da Vontade e Força Vinculante dos Contratos.

O art. 421 do Código Civil estabelece que os contratos têm força de lei entre as partes. Assim, se os adquirentes concordaram com a cláusula de manutenção, não podem posteriormente alegar ilegitimidade da cobrança.

4.2. Enriquecimento sem Causa e Benefício Recebido.

O art. 884 do Código Civil veda o enriquecimento ilícito. Se os proprietários usufruíram dos serviços de manutenção (limpeza, segurança, pavimentação), seria injusto não contribuir para seus custos.

4.3. Precedentes do STJ.

O STJ já decidiu reiteradamente que:

  • É válida a cobrança de taxas por administradora de loteamento se prevista em contrato registrado (REsp 1.569.609/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi).
  • A ausência de prequestionamento impede a análise de questões não debatidas no tribunal de origem (Súmula 282/STF).


5. Conclusão.

O julgamento do Recurso Especial nº 1.711.721/SP pelo STJ consolidou um entendimento essencial para o Direito Imobiliário: 

a cobrança de taxas de manutenção por administradoras de loteamento é válida quando lastreada em contrato registrado e anuência inequívoca dos proprietários“.

Ao distinguir o caso do Tema 492/STF, o Tribunal destacou que:

  • O vínculo contratual registrado legitima a cobrança, afastando a alegação de ilegalidade;
  • Não se trata de imposição unilateral, mas de obrigação assumida voluntariamente pelos adquirentes do imóvel;
  • A segurança jurídica dos negócios imobiliários é preservada, garantindo que cláusulas devidamente registradas sejam cumpridas.

Portanto, o caso serve como importante precedente para administradoras, incorporadoras e proprietários, reforçando que:

  • Contratos transparentes e registrados são a chave para cobranças válidas;
  • Associações de moradores não podem impor taxas sem adesão voluntária, mas administradoras contratuais podem fazê-lo com base em instrumentos jurídicos regularizados.

Em um mercado imobiliário cada vez mais regulado, decisões como essa equilibram os interesses das administradoras e dos proprietários, assegurando que serviços essenciais de infraestrutura sejam mantidos sem violar direitos individuais.

A lição que fica é clara: 

a formalização adequada do vínculo obrigacional é o melhor caminho para evitar litígios e garantir a sustentabilidade dos loteamentos“.

AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1711721 – SP (2017/0301970-4)

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